segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O que acontece después

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sou informal demais e suspeita para falar sobre este trabalho. Mesmo assim, me atrevo a escrever algumas palavras sobre o processo que vivi, durante o projeto Dança e Imaginação.
O primeiro aprendizado desse percurso, foi o de perceber que a criação de um solo, que por definição pertence a uma única pessoa, pode se desdobrar e contaminar diversas pessoas, individualmente, ou um coletivo de pessoas e suas diversas relações.
Este projeto, me indicou uma abertura de caminhos e possibilidades interdisciplinares de relações criativas. Foi um grande desafio, uma vez que todo profissional desenvolve sua forma confortável de atuar, porém, como os demais integrantes, fui contaminada pela pesquisa da bailarina Ana Clara Amaral e fui estimulada a rever minha forma de atuar na produção.
Durante o processo de criação do espetáculo después, tive a oportunidade de trabalhar e re-encontrar com a diretora de arte Anna Kuhl, o compositor da trilha sonora Silas Oliveira, além da bailarina Ana Clara Amaral e do diretor Eduardo Brasil. É nessa fase que esse “solo” passa a pertencer a um coletivo, que passa a trocar suas referencias e pontos de vista, a partir da pesquisa trazida até nós por Ana Clara.
Foi um mergulho de mãos dadas rumo as trocas de referências sobre as provocações das fotografias de Diane Arbus, sobre as técnicas Klauus Vianna e Mímeses corpórea, sobre as referências musicais trazidas pelo Silas e sobre essa temática do fim, do que acontece antes e depois do fim.
Todo esse processo de troca foi sendo impresso rapidamente no corpo da bailarina. Se via em cores, com as propostas da direção de arte, se sentia em linhas do corpo da bailarina que desconstruia e transformava a cada ensaio, as propostas sonoras e musicais da trilha. Cada construção foi lapidada e recortada pela direção até um primeiro acabamento para estréia.
Durante a execução das apresentações do projeto, a troca aumentou ainda mais, e nessa fase, com o olhar de fora do público. Desde os pesquisadores nas palestras, os bailarinos e atores nas oficinas e até mesmo os leigos nas apresentações, foram trocas completamente relevantes para criação do espetáculo después, que foi construído através desses diversos olhares durante esta trajetória.
Assistindo e participando desse processo fui tocada por diversas imagens que me resgataram períodos da infância, adolescência e da fase adulta, abrindo assim, o espaço para o questionamento sobre o futuro, a velhice e a morte. Como seria o fim de tudo? A morte é o fim? O que acontece depois?
Foram trazidas até mim, imagens e sensações que transitam entre lúdico, o melancólico e o cômico, como dizem algumas teorias, aquele filme resumo da vida que passa pela cabeça do indivíduo antes de morrer.
E para que sentir tudo isso? Ter a oportunidade de viver essas sensações através de uma obra artística, só reforça ainda mais o valor da vida, e a esperança de existir um depois, transforma tudo aquilo que estava rígido, morrendo, secando, em algo maleável, flexível, cheio de movimento, vivo.
A todos aqueles que se permitirem sentir e refletir, é uma linda oportunidade para rever todos os conceitos do que se acredita ser a vida e a morte.
O que concluo a partir dessa experiência, é que na verdade, não interessa muito “o que” acontece depois, e sim que essa reflexão continue acontecendo depois e depois e después...

Naiane Beck
Produtora do projeto Dança e Imaginação

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